sábado, 30 de novembro de 2019

Introdução


 
Em um país com mais de 500 anos de história e território de proporções continentais, é comum existirem centenas de localidades com também muitos séculos de existência, e em uma sociedade que sempre foi essencialmente católica, naturalmente encontramos uma ou mais igrejinhas. Apesar de a preocupação com a preservação do patrimônio histórico ser algo relativamente recente no Brasil, encontramos em muitos lugares construções antigas, até mesmo da época da fundação das cidades, ainda preservadas – ou quase. Se não estão totalmente preservadas, há pelo menos algum vestígio ou alguma história. 


E quando falamos das igrejas antigas de uma cidade, naturalmente haverá uma que é a “mais antiga”, nem sempre a primeira que foi construída, pois era comum a demolição de igrejas antigas para se erguer uma nova, ou então para se abrir uma avenida, ou construir algo diferente no lugar, e as que escaparam deste destino terrível nem sempre eram as primeiras da localidade. É o caso de Curitiba.

Não temos como precisar qual foi e onde foi construída a primeira igreja do território atual de Curitiba, pois diversas povoações foram surgindo quase simultaneamente em diferentes áreas, cada uma com seu local reservado ao culto religioso. Mas considerando apenas a Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, que mais tarde se expandiu até englobar as demais povoações e se tornar hoje a capital do estado do Paraná, a primeira igreja a ser construída é a antiga Matriz, que foi demolida e reconstruída algumas vezes até permanecer a atual Catedral Basílica. Mas contaremos esta história paralelamente no decorrer dessa nossa narrativa, pois nosso assunto não é a Igreja Matriz, que foi a primeira, nem a antiga Igreja do Rosário, que foi a segunda, mas sim a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco das Chagas, que foi a terceira a ser construída e a única das primeiras que sobreviveu a demolições, apesar de não ter escapado de contínuas reformas.


A Igreja da Ordem é, portanto, o templo religioso mais antigo de Curitiba. 

Pretendo com esse trabalho descrever com a maior riqueza de detalhes possível a história dessa célebre igreja localizada no coração de Curitiba, a poucos metros da Catedral e do Marco Zero.

Atualmente há um grande movimento de valorização histórica em Curitiba, o que é muito bom. Porém, nem sempre a história é bem contada. Há aqueles que contam a história da cidade e de seus lugares de forma muito romanceada e repleta de lendas, e por outro lado há os que contam a história de forma ideológica, sempre tendendo para o dualismo de pobres contra ricos, senhores contra escravos, mulheres contra homens, nobreza contra plebeus, europeus contra índios, algo bastante típico da educação “paulofreireana” em que as últimas gerações estiveram imersas. Eu, porém, quero trazer a você, curioso navegador, a história desta Igreja e, consequentemente, da cidade de Curitiba e de pessoas e outros lugares que cruzam com a Igreja da Ordem, de uma forma sensata, verídica, e principalmente: católica!


Antes que me critique mentalmente por não ser laico o suficiente neste trabalho de pesquisa, permita-me justificar: Irei tratar de um templo religioso católico, construído para fins religiosos de católicos, de maneira católica, para católicos, e que nunca deixou de funcionar para fins católicos. Atualmente a maioria das pessoas que costumam contar a história da Igreja da Ordem a vêem e descrevem apenas como um museu, como uma peça arquitetônica, como um monumento artístico, porém isso é apenas um detalhe da igreja. Ela é muito mais do que isso.


Sim, ela tem uma importância histórica, ela tem uma importância artística, ela tem uma importância turística, etc. Porém acima de tudo isso está a sua importância religiosa. Curitiba foi fundada por católicos, habitada por católicos, e assim foi a maioria da sua população por muito tempo. Infelizmente hoje a sociedade de Curitiba e de todo o país – e do mundo – está extremamente e profundamente secularizada, e não conseguimos mais ver as obras católicas com um olhas religioso, apesar de se respeitar como arte ou como patrimônio histórico – o que pelo menos é coisa boa.

Então peço ao querido leitor que leia este meu trabalho com uma bondosa curiosidade de saber a história deste templo católico aos olhos de uma pessoa que se considera profundamente católica e estudiosa das coisas de sua religião, apesar de ainda ser um miserável pecador. Assim tentarei explicar minuciosamente os detalhes desta igreja de forma que você possa entender o motivo de assim ser.


Não seguirei nenhum procedimento acadêmico para este texto. Quero apenas contar da forma mais didática possível.

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Fontes


As fontes históricas sobre o início desta igreja e seus acontecimentos são escassos. Perderam-se os documentos iniciais, e a maior riqueza em fatos documentados inicia em meados de 1800. A mais célebre fonte sobre a Igreja da Ordem é um livreto de Antonio Ricardo Lustoza de Andrade, chamado “Breve Notícia da Igreja da Ordem III de S. Francisco das Chagas”. 

O livro de Lustoza, publicado em 1880, relata um pouco do que se sabia da origem da igreja e os esforços para adequá-la à visita do Imperador, em Maio daquele ano. Este livro, porém, é de difícil acesso, mas há um trabalho acadêmico de Cláudio Forte Maiolino para a Universisade Federal do Rio Grande do Sul sobre as igrejas góticas de Curitiba, de 2007, que traz longas e preciosas citações deste livro de Lustoza.

A segunda grande fonte é um livro de Frei Basílio Rower, OFM, intitulado “Os Franciscanos no Sul do Brasil durante o século XVIII”, servindo de fonte desses anos iniciais com base nos arquivos da própria província franciscana de Curitiba.

E uma terceira fonte, muito interessante para entendermos a relevância desta igreja para a sociedade Curitibana a partir da segunda metade dos anos 1800 (época em que a cidade passou a ter algum destaque na sociedade nacional), são os arquivos dos jornais da cidade disponíveis no site da Biblioteca Nacional – tais como O Dezenove de Dezembro, o Diário da Tarde, A República, etc.

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Mais adiante usarei um trabalho de Luís Fernando Lopes denominado "A Escola do Padre Auling: uma Escola para imigrantes alemães católicos em Curitiba", também disponível na internet.

As informações a partir daqui saíram principalmente destas fontes.

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

A Vila de Nossa Senhora da Luz e a chegada da Ordem Terceira:


Curityba surge em meados de 1668, quando os bandeirantes instalaram-se na região. Eleodoro Ébano pereira, Baltasar Carrasco dos Reis e Mateus Martins Leme são os primeiros grandes nomes da fundação do pequeno povoado de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Em 29 de Março de 1693 passa a ser reconhecida como Vila, tendo na época cerca de noventa moradores. 

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Fundação de Curitiba, obra de Theodoro de Bona.

Antes mesmo disso, o missionário franciscano Frei Bartolomeu do Amparo já havia chego à região de Curitiba, entre 1681 e 1682.

A Ordem Terceira de São Francisco já havia se estabelecido em Paranaguá em 1714, e décadas depois alguns missionários subiram a serra para ajudar na colonização da região de Curitiba. Entre eles, confirmam-se as presenças de Frei Jerônimo Rodrigues, em 1736, e Frei Domingos da Purificação em 1740. Nesta época a vila ainda vivia da mineração de ouro, agricultura de subsistência e do comércio com os tropeiros que passavam por Curitiba em suas viagens entre Sorocaba e Viamão, no Rio Grande do Sul, levando as mulas para as Minas Gerais.

No mesmo ano de 1740, o Frei Manuel da Trindade era o diretor da Ordem Terceira em Paranaguá, e foi ele quem resolveu organizar a mesma Ordem na Vila de Nossa Senhora da Luz. 

Na vila residia um certo Simão Gonçalves de Andrade, que era membro da Ordem Terceira de São Francisco na cidade de Itu, São Paulo, onde a Ordem existia desde 1697. Simão auxiliou Frei Manuel na organização dos terciários na vila, servindo como mestre e primeiro ministro na Ordem, como o próprio Frei Manuel subscreve em 2 de Fevereiro de 1746, sendo este o ano oficial de surgimento da Ordem Terceira em Curitiba. Dois anos depois, Frei Manuel foi substituído como comissário por Frei Félix de Sant’ana e Frei Sebastião de Santa Rosa Caminha.

A Ordem, porém, ainda não possuía uma capela.