Em um país com mais de
500 anos de história e território de proporções continentais, é comum existirem
centenas de localidades com também muitos séculos de existência, e em uma
sociedade que sempre foi essencialmente católica, naturalmente encontramos uma
ou mais igrejinhas. Apesar de a preocupação com a preservação do patrimônio
histórico ser algo relativamente recente no Brasil, encontramos em muitos
lugares construções antigas, até mesmo da época da fundação das cidades, ainda
preservadas – ou quase. Se não estão totalmente preservadas, há pelo menos
algum vestígio ou alguma história.
E quando falamos das
igrejas antigas de uma cidade, naturalmente haverá uma que é a “mais antiga”,
nem sempre a primeira que foi construída, pois era comum a demolição de igrejas
antigas para se erguer uma nova, ou então para se abrir uma avenida, ou
construir algo diferente no lugar, e as que escaparam deste destino terrível
nem sempre eram as primeiras da localidade. É o caso de Curitiba.
Não temos como precisar
qual foi e onde foi construída a primeira igreja do território atual de
Curitiba, pois diversas povoações foram surgindo quase simultaneamente em
diferentes áreas, cada uma com seu local reservado ao culto religioso. Mas
considerando apenas a Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, que mais tarde
se expandiu até englobar as demais povoações e se tornar hoje a capital do
estado do Paraná, a primeira igreja a ser construída é a antiga Matriz, que foi
demolida e reconstruída algumas vezes até permanecer a atual Catedral Basílica.
Mas contaremos esta história paralelamente no decorrer dessa nossa narrativa,
pois nosso assunto não é a Igreja Matriz, que foi a primeira, nem a antiga
Igreja do Rosário, que foi a segunda, mas sim a Igreja da Ordem Terceira de São
Francisco das Chagas, que foi a terceira a ser construída e a única das
primeiras que sobreviveu a demolições, apesar de não ter escapado de contínuas
reformas.
A Igreja da Ordem é,
portanto, o templo religioso mais antigo de Curitiba.
Pretendo com esse
trabalho descrever com a maior riqueza de detalhes possível a história dessa
célebre igreja localizada no coração de Curitiba, a poucos metros da Catedral e
do Marco Zero.
Atualmente há um
grande movimento de valorização histórica em Curitiba, o que é muito bom.
Porém, nem sempre a história é bem contada. Há aqueles que contam a história da
cidade e de seus lugares de forma muito romanceada e repleta de lendas, e por
outro lado há os que contam a história de forma ideológica, sempre tendendo
para o dualismo de pobres contra ricos, senhores contra escravos, mulheres
contra homens, nobreza contra plebeus, europeus contra índios, algo bastante
típico da educação “paulofreireana” em que as últimas gerações estiveram
imersas. Eu, porém, quero trazer a você, curioso navegador, a história desta
Igreja e, consequentemente, da cidade de Curitiba e de pessoas e outros lugares
que cruzam com a Igreja da Ordem, de uma forma sensata, verídica, e
principalmente: católica!
Antes que me critique
mentalmente por não ser laico o suficiente neste trabalho de pesquisa,
permita-me justificar: Irei tratar de um templo religioso católico, construído
para fins religiosos de católicos, de maneira católica, para católicos, e que
nunca deixou de funcionar para fins católicos. Atualmente a maioria das pessoas
que costumam contar a história da Igreja da Ordem a vêem e descrevem apenas
como um museu, como uma peça arquitetônica, como um monumento artístico, porém
isso é apenas um detalhe da igreja. Ela é muito mais do que isso.
Sim, ela tem uma
importância histórica, ela tem uma importância artística, ela tem uma
importância turística, etc. Porém acima de tudo isso está a sua importância
religiosa. Curitiba foi fundada por católicos, habitada por católicos, e assim
foi a maioria da sua população por muito tempo. Infelizmente hoje a sociedade
de Curitiba e de todo o país – e do mundo – está extremamente e profundamente
secularizada, e não conseguimos mais ver as obras católicas com um olhas
religioso, apesar de se respeitar como arte ou como patrimônio histórico – o
que pelo menos é coisa boa.
Então peço ao querido
leitor que leia este meu trabalho com uma bondosa curiosidade de saber a
história deste templo católico aos olhos de uma pessoa que se considera
profundamente católica e estudiosa das coisas de sua religião, apesar de ainda
ser um miserável pecador. Assim tentarei explicar minuciosamente os detalhes
desta igreja de forma que você possa entender o motivo de assim ser.
Não seguirei nenhum
procedimento acadêmico para este texto. Quero apenas contar da forma mais
didática possível.