quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Revelando mentiras

Apesar de toda a história da Igreja da Ordem estar em detalhes disponível na internet, é muito comum vermos e ouvirmos pessoas falando os mais variados absurdos sobre a Igreja em si ou suas características.
Vamos a algumas delas:

1 - Os lustres foram doados pela princesa Isabel

Na verdade os lustres foram comprados para a visita do Imperador, 4 anos antes da princesa vir a Curitiba. Como vimos, a sociedade curitibana se mobilizou para restaurar a Igreja da Ordem para a visita de Dom Pedro II, e muito provavelmente os lustres foram comprados e doados por algum dos grandes empresários da cidade. O que a família imperial doou foram sinos para algumas das igrejas por onde passavam. É claro que eles não vinham do Rio de Janeiro carregando sinos de bronze, mas certamente encomendava os sinos para as igrejas das comunidades.


2 - Os bancos da capela do altar-mor são individuais e os da nave da igreja são coletivos pois os individuais (mais bem trabalhados e com almofadas) eram para os senhores, enquanto os escravos sentavam nos outros.

Na verdade os bancos individuais foram comprados há algumas décadas atrás, e os bancos maiores são da década de 1950. É impossível que tenha existido essa diferença entre senhores e escravos, mais de 50 anos após a abolição da escravidão.


3 - Então essa diferença entre bancos servia para separar os pobres dos ricos?

Os bancos da igreja eram todos iguais até os anos 2000. Foi um dos últimos reitores que decidiu substituí-los, mas não conseguiu chegar a trocar todos os bancos da igreja por individuais, por isso apenas os da frente ficaram assim. Não havia nenhuma divisão de classes.

4 - A Igreja da Ordem era a igreja dos ricos, e a Igreja do Rosário era a igreja dos escravos.

Na época da escravidão não existiam apenas senhores e escravos. Haviam também pessoas pobres, brancas, sem escravos e sem tantos bens. E até mesmo ex-escravos, que nem sempre conseguiam ter uma vida abastada após sua alforria. E essas pessoas pobres também iam à missa. Também lembremos que a Igreja da Ordem era da Ordem Terceira de São Francisco, de que as pessoas faziam parte seguindo a espiritualidade franciscana, que inclui os votos de pobreza e obediência. Portanto podemos deduzir que as pessoas mais pobres eram as mais certas de irem à Igreja da Ordem.
De fato a Igreja do Rosário foi construída por negros (escravos ou ex-escravos), para servir à Irmandade de São Benedito. Mas lembremos que, ainda durante a era da escravidão, aquela igreja foi escolhida pelas autoridades para servir de Igreja Matriz enquanto a Catedral era construída.
É claro que existia muito preconceito, como existe até hoje, mas não era algo como as pessoas costumam pintar hoje, onde brancos e negros não se misturavam de maneira nenhuma.
Basta lembrar que a Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá foi construída na época do império, e projetada por Antonio Rebouças, que era negro. E ele mesmo havia criticado o fato da Igreja Matriz estar quase em ruínas, dizendo que Curitiba merecia uma igreja digna de uma capital, e seu conselho foi ouvido pelas autoridades.
Portanto, a Igreja do Rosário era a igreja da Irmandade dos Homens Pretos (católicos), a Igreja da Ordem era dos franciscanos e a Matriz era de toda a sociedade, independente de sua classe. Os ricos tinham suas próprias capelas, como por exemplo a Capela Nossa Senhora da Glória, da família Leão. Essa sim era apenas frequentada por ricos.


5 - As placas nos bancos eram para marcar território para aquelas famílias cujos nomes estão escritos.

Isso era algo comum nas igrejas protestantes do sul dos Estados Unidos, antes da Guerra Civil. No Brasil isso não acontecia, muito menos na década de 1950. Os nomes estão lá para homenagear e agradecer pela doação daquele banco, perpetuando o nome das famílias para as gerações futuras, assim como acontece nos vitrais de muitas igrejas, que também trazem o nome das pessoas ou famílias que lhes financiaram.
Se isso fosse verdade, teríamos também nomes gravados nos belíssimos bancos da Catedral Basílica, que era muito mais querida pela alta sociedade do que a pequena Igreja da Ordem, que estava frequentemente em reformas.


6 - A imagem de Cristo Crucificado no altar-mor possui cabelos humanos

Isso é uma pequena confusão. A imagem que possui cabelos humanos é a de Bom Jesus dos Passos, que foi tomada pela Fundação Cultural e hoje faz parte do acervo do Museu de Arte Sacra.


7 - A igreja foi construída pela Irmandade de Nossa Senhora do Terço, mas depois as irmãs foram embora e deixaram a igreja para a Ordem Terceira de S. Francisco.

Esse é um absurdo dos grandes. Não existiu nenhuma Irmandade de Nossa Senhora do Terço. A Igreja da Ordem nasceu com o nome de Capela de Nossa Senhora do Terço por sugestão de frei Antonio do Extremo, que idealizou sua construção. Não havia nenhuma irmandade.


8 - A cruz no alto do campanário possui uma coroa, simbolizando a visita de Dom Pedro II.

Não há registro nenhum disso. Até porque o campanário foi construído 4 anos depois da visita do Imperador. E outras igrejas que ele visitou, como vimos no capítulo em que descrevemos sua visita, não possuem essa coroa na cruz.
E caso questionem que a coroa foi colocada após a construção da torre para simbolizar a visita do imperador, podemos nos questionar por que não colocaram uma coroa na torre da igreja da Santa Cândida, ou do Orleans também. 

9 - Existe um Túnel que liga a Igreja da Ordem à Catedral e ao Clube Alemão Concórdia.

Isso é verdade, e a entrada do túnel na Igreja da Ordem fica logo ao lado da porta da sacristia atual, em baixo da escada que sobe para a casa paroquial. Costuma ser escondido por um armário, e lá estão os restos dos vitrais coloridos originais da igreja e outros artefatos históricos abandonados.








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