A História da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco das Chagas em detalhes e imagens
segunda-feira, 28 de outubro de 2019
As mudanças do “restauro” de 1979
A foto acima é provavelmente a última que temos da Igreja da Ordem antes dos trabalhos de Cyro Correia em 1979.
Praticamente vemos todas as características da foto do Diário do Paraná de 1971. A foto a seguir, registrada em 2019, mostra as modificações da reforma de 1979 que permanecem até hoje. Comentaremos a seguir.
A pintura branca dos altares, presentes desde o início do século passado, que pudemos observar na foto mais antiga que postamos, foi removida, e os altares agora estão na cor natural da madeira com detalhes em amarelo-escuro (que talvez tente imitar o dourado original). Foram criados dois retábulos que não existiam, onde agora vemos as imagens dos Sagrados Corações. O Sacrário foi deixado de lado, literalmente, encrustado na parede, e no seu lugar o retábulo onde é exposto o Santíssimo Sacramento. Foram colocados castiçais de madeira nas suas laterais, onde brilham “velas artificiais” (lâmpadas). O arco do centro da igreja foi refeito como na segunda foto que postamos do interior, porém sem os detalhes em relevo que ele possuía.
O teto da nave maior foi mantido e a pintura foi refeita (apesar de facilmente observarmos terríveis falhas), mas o teto da capela-mor foi coberto com madeira. A justificativa é que esse é o formato do teto da época colonial, e isso é verdade, se compararmos com as igrejas coloniais que mostramos no início desse trabalho. Mas a Igreja da Ordem não é mais uma igreja colonial desde 1880!
As paredes foram todas pintadas de branco, e foi feita uma parede ao lado esquerdo da capela-mor, dentro da qual foi feito uma tentativa de confessionário. Na parede direita as janelas ogivais que vemos na primeira das duas fotos que postamos acima, foram substituídas por três janelas em formato de “seteira”, totalmente estranhas, com medidas claramente diferente entre elas, com a justificativa de que durante as obras, observaram que elas eram originalmente assim, e elas foram refeitas. A pintura branca da madeira foi muito mal removida, e vemos resquícios dela por toda parte. Provavelmente nesta época também foi trocado o desenho da rosácea e foram retirados os vidros coloridos das janelas.
O presbitério também foi modificado, tendo agora um desenho dos degraus completamente estranho. Este restauro, deixando a igreja com dois tipos de arquitetura, é justificado da seguinte forma: foram mantidas as características das duas épocas arquitetônicas da igreja – colonial e neogótica. O estranho é que os ladrilhos coloridos colocados por padre Guardia continuam até hoje...
Porém esta justificativa deixa evidente uma coisa: aqueles que queriam transformar a igreja em um museu conseguiram fazer isso. Essas pessoas não conseguem ver a igreja como um templo sagrado, casa de Deus, onde toda a sua arquitetura e seus elementos internos e externos devem remeter as almas dos fiéis a Deus.
Não, pelo contrário: quiseram desfazer décadas de esforços de piedosos padres para transformar a igreja em uma permanente obra de arte arquitetônica da cidade. A Igreja da Ordem é uma importante obra arquitetônica da cidade? Sim. Mas ela é muito mais do que isso.
Quando Coronel Motta construiu a Igreja da Ordem não fez isso desejando fazer uma obra colonial que seria referência 300 anos depois, mas sim criar um local de culto a Deus, onde fosse celebrado o santo sacrifício da Missa. E esse objetivo foi seguido por todos os séculos seguintes até hoje.
Mas os arquitetos dos anos 70 não entenderam isso. Se o restauro dos anos 70 tivesse sido feito por verdadeiros católicos, o resultado seria muito diferente. E provavelmente a sacristia e a secretaria continuariam onde hoje é um museu.
Porém as intervenções não pararam por aí. Em 1984 o pintor curitibano de estilo moderno expressionista, Luiz Carlos de Andrade Lima, doa as 14 estações da Via Sacra pintadas por ele para a Igreja da Ordem, usando as molduras antigas de 1880. Certamente elas possuem um alto valor artístico, porém a igreja não é uma galeria de arte, e tudo o que se coloca numa igreja deveria ser o mais profundamente belo o possível para remeter às coisas celestes e elevar a alma dos fiéis a Deus. E as figuras distorcidas e em cores mórbidas das obras de Andrade Lima são muito interessantes para um museu, mas não para uma igreja.
No entanto, permanecem lá.
Apesar disso, há um elemento interessante: Em uma das estações, o artista representou o retrato do padre Júlio Montoya ao lado de Jesus, e num outro quadro representou seu auto-retrato.
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