Voltando alguns anos,
chegamos a 1896, quando toma posse como reitor da Igreja da Ordem um outro
importante personagem: o franciscano alemão Padre Francisco Auling, que passa a
ser o capelão dos imigrantes alemães, e a igreja, consequentemente, passa a atender
esses fiéis, tendo a missa no idioma alemão (isto é, a missa era em latim,
porém o sermão e as leituras eram em alemão).
Padre Auling é um
importante personagem não só da história da Igreja da Ordem, como também da
comunidade franciscana em Curitiba e de toda a própria cidade de Curitiba.
Nascido na Alemanha, (Münster,
Westfália, em 17 de dezembro de 1852), cursou Teologia e Filosofia na Academia
Real de Münster. Em 1871, Franz Auling foi ordenado Sacerdote na Catedral de
Osnabrück, na mesma cidade, em 10 de
agosto de 1875. Em dezembro de 1890 recebeu autorização prolongada do Bispo Dom
Hermann Dingelstadt para dedicar-se aos imigrantes de origem alemã que se
encontravam no Brasil. No primeiro dia do mês de janeiro de 1891 partiu de
Bremen, com destino ao Brasil, chegando no mês seguinte na cidade do Braço do
Norte, Santa Catarina, onde passou a dedicar-se à atividade sacerdotal que lhe
fora atribuída. Chegou em Curitiba em 23 de novembro de 1895, assumindo a
Secretaria da Cúria, bem como o cuidado dos imigrantes católicos alemães, e era
muito comum que ele assinasse os anúncios do bispo nos jornais da cidade e o
substituísse nas funções administrativas quando o mesmo se ausentava.
Acontece que havia em
Curitiba uma escola para as crianças alemãs, administrada pela sociedade dos
imigrantes alemães, mas os membros da sociedade eram na maioria luteranos.
Padre Auling desejou lecionar a Religião aos alunos católicos desta escola, mas
nunca foi admitido como professor. Este é um trecho de uma carta que enviou ao
bispo Dom João de Camargo Barros, presente nos Boletins Eclesiásticos:
“Exmo. E Rvmo. Snr. Bispo. – Tendo sido por V. Exa. Rvma. Chamado no fim
do ano de 1895, a esta Capital afim de entre outras ocupações exercer também a
cura de almas, cuidando principalmente dos Allemães Cathólicos, que n’esta
cidade residem, considerei logo como minha primeira obrigação a instrução
religiosa da juventude das numerosas famílias alemãs. Estes meninos, quais em
sua totalidade, frequentavam uma escola alemã, que já perto de 15 anos aqui
existia. Dirigi-me então a diretoria desta Escola, pedindo que me concedessem
semanalmente duas horas, para eu abrir na escola aulas de doutrina cristã aos
alunos catholicos no estabelecimento. Mas ainda que muitos pais catholicos estivessem
de acordo com minha postulação, ainda que os estatutos da escola me dessem o
direito a esta, ainda que o ministro protestante tivesse gozado da mesma
concessão, os membros da dita directoria se atreveram a negar-me unanimemente a
licença de entrar na escola.”
Após isso, e com a
permissão do bispo, padre Auling fundou sua própria escola católica na cidade:
a “Escola Elementar Alemã Católica de
Curitiba”, ou “Katholische Deutche
Volks-Schule zu Curityba”, em 1896.
Anúncio da escola do padre Auling,
reitor da Igreja da Ordem
A escola do do padre Auling ficava próximo a Igreja da Ordem, na Rua do
Rosário, na esquina com a rua Saldanha Marinho.

Antiga Escola Elementar Alemã
Católica de Curitiba
Nesta outra carta de 1901 do padre Auling ao bispo de Curitiba, ele
relata sobre as atividades:
“Frequentada a escola no começo por poucos
alunos, pouco a pouco cresceu o número delles a 120, numero este, que se
aguentou quasi permanentemente durante os últimos tres anos escolares e às
vezes subiu a 130. Os pais de família desconfiados no princípio, se a escola
seria ou não de longa duração, deram cada vez mais confiança à nossa empreza,
em vista dos bons resultados scientíficos, que ela conseguiu pelos esforços dos
dous professores bem habilitados, que sob minha direção e codjuvação
conscienciosamente desempenharam seu cargo difícil e laborioso.”
As atividades
religiosas ligadas à escola eram todas celebradas na Igreja da Ordem:
Jornal Diário da Tarde, Edição
530 de 1901
O Catecismo era
incluso como matéria obrigatória, e os alunos recebiam os sacramentos na Igreja
da Ordem, como podemos ler neste trecho publicado no jornal A Estrella, de 25 de Dezembro de 1898:
“Primeira Comunhão. Realisou-se no dia 8 de
dezembro, na egreja da Ordem Terceira de S. Francisco, a primeira communhão dos
meninos e meninas da escola do Rvmo. Padre Francisco Auling. A egreja estava
bella e artisticamente adornada, repleta de fieis, paes e parentes dos
neo-comungantes, e de muitas famílias. Cânticos harmoniosos e apropriados intercalados
aos actos piedosos recitados pelo rvmo. educador e por um dos seus auxiliares e
pelos commungantes, deram um tom grato e emocionante à ceremonia, que devia ter
edificado sobre modo aos assistentes, como a nós o fez o brilho da ornamentação
do templo e das vellas”
Posteriormente, ele
dividiu os alunos das alunas da escola, criando a escola da Divina Providência
para as meninas, permanecendo os meninos na escola original.
Os esforços do padre
Francisco Auling pela educação dos pequenos alemães rendeu frutos, e sua
pequena escola elementar cresceu. Com a construção do convento franciscano na
atual Praça Rui Barbosa, com a igreja Bom Jesus dos Perdões, sua escola
mudou-se para lá, e hoje é o Colégio Bom Jesus, um gigantesco complexo
educacional que se espalhou pela cidade.
Na base da Torre da
Igreja da Ordem há uma placa em homenagem ao grande Padre Francisco Auling:
Placa localizada na torre da Igreja da Ordem,
onde hoje é entrada do museu
Ele permaneceu na
Igreja da Ordem até 1903, passando o posto de reitor para o frei Eduardo Vogt.
Faleceu em 1956.
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