sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Padre Auling


Voltando alguns anos, chegamos a 1896, quando toma posse como reitor da Igreja da Ordem um outro importante personagem: o franciscano alemão Padre Francisco Auling, que passa a ser o capelão dos imigrantes alemães, e a igreja, consequentemente, passa a atender esses fiéis, tendo a missa no idioma alemão (isto é, a missa era em latim, porém o sermão e as leituras eram em alemão). 

Padre Auling é um importante personagem não só da história da Igreja da Ordem, como também da comunidade franciscana em Curitiba e de toda a própria cidade de Curitiba. 

Nascido na Alemanha, (Münster, Westfália, em 17 de dezembro de 1852), cursou Teologia e Filosofia na Academia Real de Münster. Em 1871, Franz Auling foi ordenado Sacerdote na Catedral de Osnabrück, na mesma cidade,  em 10 de agosto de 1875. Em dezembro de 1890 recebeu autorização prolongada do Bispo Dom Hermann Dingelstadt para dedicar-se aos imigrantes de origem alemã que se encontravam no Brasil. No primeiro dia do mês de janeiro de 1891 partiu de Bremen, com destino ao Brasil, chegando no mês seguinte na cidade do Braço do Norte, Santa Catarina, onde passou a dedicar-se à atividade sacerdotal que lhe fora atribuída. Chegou em Curitiba em 23 de novembro de 1895, assumindo a Secretaria da Cúria, bem como o cuidado dos imigrantes católicos alemães, e era muito comum que ele assinasse os anúncios do bispo nos jornais da cidade e o substituísse nas funções administrativas quando o mesmo se ausentava. 

Acontece que havia em Curitiba uma escola para as crianças alemãs, administrada pela sociedade dos imigrantes alemães, mas os membros da sociedade eram na maioria luteranos. Padre Auling desejou lecionar a Religião aos alunos católicos desta escola, mas nunca foi admitido como professor. Este é um trecho de uma carta que enviou ao bispo Dom João de Camargo Barros, presente nos Boletins Eclesiásticos:

“Exmo. E Rvmo. Snr. Bispo. – Tendo sido por V. Exa. Rvma. Chamado no fim do ano de 1895, a esta Capital afim de entre outras ocupações exercer também a cura de almas, cuidando principalmente dos Allemães Cathólicos, que n’esta cidade residem, considerei logo como minha primeira obrigação a instrução religiosa da juventude das numerosas famílias alemãs. Estes meninos, quais em sua totalidade, frequentavam uma escola alemã, que já perto de 15 anos aqui existia. Dirigi-me então a diretoria desta Escola, pedindo que me concedessem semanalmente duas horas, para eu abrir na escola aulas de doutrina cristã aos alunos catholicos no estabelecimento. Mas ainda que muitos pais catholicos estivessem de acordo com minha postulação, ainda que os estatutos da escola me dessem o direito a esta, ainda que o ministro protestante tivesse gozado da mesma concessão, os membros da dita directoria se atreveram a negar-me unanimemente a licença de entrar na escola.”

Após isso, e com a permissão do bispo, padre Auling fundou sua própria escola católica na cidade: a “Escola Elementar Alemã Católica de Curitiba”, ou “Katholische Deutche Volks-Schule zu Curityba”, em 1896.


 Anúncio da escola do padre Auling, reitor da Igreja da Ordem



A escola do do padre Auling ficava próximo a Igreja da Ordem, na Rua do Rosário, na esquina com a rua Saldanha Marinho.

 Antiga Escola Elementar Alemã Católica de Curitiba

Nesta outra carta de 1901 do padre Auling ao bispo de Curitiba, ele relata sobre as atividades:


“Frequentada a escola no começo por poucos alunos, pouco a pouco cresceu o número delles a 120, numero este, que se aguentou quasi permanentemente durante os últimos tres anos escolares e às vezes subiu a 130. Os pais de família desconfiados no princípio, se a escola seria ou não de longa duração, deram cada vez mais confiança à nossa empreza, em vista dos bons resultados scientíficos, que ela conseguiu pelos esforços dos dous professores bem habilitados, que sob minha direção e codjuvação conscienciosamente desempenharam seu cargo difícil e laborioso.”

As atividades religiosas ligadas à escola eram todas celebradas na Igreja da Ordem:

 Jornal Diário da Tarde, Edição 530 de 1901

O Catecismo era incluso como matéria obrigatória, e os alunos recebiam os sacramentos na Igreja da Ordem, como podemos ler neste trecho publicado no jornal A Estrella, de 25 de Dezembro de 1898:

“Primeira Comunhão. Realisou-se no dia 8 de dezembro, na egreja da Ordem Terceira de S. Francisco, a primeira communhão dos meninos e meninas da escola do Rvmo. Padre Francisco Auling. A egreja estava bella e artisticamente adornada, repleta de fieis, paes e parentes dos neo-comungantes, e de muitas famílias. Cânticos harmoniosos e apropriados intercalados aos actos piedosos recitados pelo rvmo. educador e por um dos seus auxiliares e pelos commungantes, deram um tom grato e emocionante à ceremonia, que devia ter edificado sobre modo aos assistentes, como a nós o fez o brilho da ornamentação do templo e das vellas”

Posteriormente, ele dividiu os alunos das alunas da escola, criando a escola da Divina Providência para as meninas, permanecendo os meninos na escola original.

Os esforços do padre Francisco Auling pela educação dos pequenos alemães rendeu frutos, e sua pequena escola elementar cresceu. Com a construção do convento franciscano na atual Praça Rui Barbosa, com a igreja Bom Jesus dos Perdões, sua escola mudou-se para lá, e hoje é o Colégio Bom Jesus, um gigantesco complexo educacional que se espalhou pela cidade.
Na base da Torre da Igreja da Ordem há uma placa em homenagem ao grande Padre Francisco Auling:

 Placa localizada na torre da Igreja da Ordem, onde hoje é entrada do museu

Ele permaneceu na Igreja da Ordem até 1903, passando o posto de reitor para o frei Eduardo Vogt. Faleceu em 1956.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário