sexta-feira, 22 de novembro de 2019

A Ordem Terceira e sua relevância


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É interessante notarmos a questão do nome da igreja, pois é a única da região que passou a levar o nome da “congregação” que dela fazia uso, e não pelo seu santo padroeiro. Por exemplo, a Igreja do Rosário não ficou conhecida como “Igreja da Irmandade de São Benedito”, ou mais tarde como “Igreja dos Jesuítas”, assim como a Bom Jesus dos Perdões, construída bem mais tarde, não ficou conhecida como “Igreja dos Franciscanos Menores”, porém a Capella de Nossa Senhora do Terço ficou conhecida como “Igreja da Ordem Terceira”, mesmo depois que a mesma ordem tenha deixado de existir na cidade.

Isso não acontece apenas em Curitiba: no país todo temos até hoje diversas igrejas que continuam sendo chamadas pelo nome das Ordens Terceiras que delas fizeram uso, ou ainda fazem. E isso é um bom exemplo da importância que as ordens terceiras tinham no passado.

Em Curitiba tínhamos apenas a Ordem Terceira de São Francisco, porém nas outras grandes cidades do país encontrávamos as ordens terceiras do Carmo, de São Bento, dos Jesuítas, dos Capuchinhos, dos Dominicanos, e claro, dos Franciscanos. Todas essas ordens foram muito importantes no período colonial do país, se estendendo até o Império. Por isso até hoje dizemos que a igrejinha da praça Coronel Enéas é a igreja “Da Ordem”, e a própria praça é o largo “Da Ordem”, e a rua ao lado quando foi aberta era chamada de rua “Da Ordem”. Notamos que essa Ordem era realmente importante, e muitos curitibanos importantes faziam parte dela.

Afinal, o que é uma Ordem Terceira? Já há muito tempo a Ordem de São Francisco deixou a sua Igreja em Curitiba, e hoje não temos muito contato com o que se trata uma Ordem Terceira. Todos os curitibanos e turistas conhecem a Igreja da Ordem e o Largo da Ordem, mas não sabem que Ordem é essa.

Uma Ordem Terceira é um tipo de Confraria, ou Associação de Fiéis leigos em torno de uma Ordem religiosa, como os já citados Carmelitas, Franciscanos, Beneditinos, Dominicanos, etc. Seus membros são leigos, e não frades, freiras, monges e padres, apesar de sempre terem como diretor algum religioso, mas o líder daquela Ordem era sempre um leigo, como era o caso de Simão Gonçalves de Andrade, que havia ingressado na Ordem Terceira franciscana em Itu, veio morar na Villa de Curitiba, e ali ajudou a trazer a mesma Ordem, sendo o seu primeiro diretor em terras curitibanas.

Podemos fazer um paralelo comparando com as Confrarias, muito comuns nas primeiras décadas do século passado, como o Apostolado da Oração, a Legião de Maria, a Federação Mariana, etc; ou nos dias atuais, os diversos grupos de jovens e comunidades de vida. Apesar dos objetivos dessas confrarias e desses grupos modernos serem diferentes dos objetivos das Ordens terceiras, o que temos em comum é: são grupos de leigos que se reúnem em torno de um mesmo propósito religioso. 

 A suntuosa igreja da Ordem Terceira de São Francisco no Rio de Janeiro, concluída em 1733, apesar da Ordem estar na cidade desde 1619.



Igreja da Ordem Terceira do Carmo, em Salvador, de 1860

Igreja da Ordem Terceira de São Francisco, em Recife

Apesar da sociedade atual ser extremamente secularizada, nos primeiros séculos de Curitiba a sociedade era profundamente católica, e até mesmo o poder público e o religioso se misturavam. Vemos nos documentos antigos da Câmara Municipal as leis a respeito das festas religiosas, do pagamento de padres, etc. Era comum, portanto, que até mesmo homens de alta patente fizessem parte de Ordens Terceiras, e em Curitiba havia apenas a de São Francisco. Por esse motivo, nossa querida igrejinha deve ter sido muito célebre nas suas primeiras décadas de vida. Mas Curitiba ainda era apenas uma pequena vila, passando a ser considerada uma Cidade apenas com a emancipação do estado do Paraná em 19 de Dezembro de 1953, sendo também considerada a sua capital. E pelos mapas anteriormente mostrados, podemos ver que realmente o espaço urbano de Curitiba permaneceu bastante reduzido até mesmo depois da emancipação, como vimos no mapa de 1857. Num mapa de 1913, 50 anos depois, vemos o território de Curitiba já bastante próximo do que é hoje, mas o núcleo urbano ainda bem limitado.
 
Mapa de 1913, mostrando o território da capital do Paraná. Note o núcleo urbano em verde escuro, ainda bem reduzido. As demais terras eram colônias de imigrantes



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