
É interessante
notarmos a questão do nome da igreja, pois é a única da região que passou a
levar o nome da “congregação” que dela fazia uso, e não pelo seu santo
padroeiro. Por exemplo, a Igreja do Rosário não ficou conhecida como “Igreja da
Irmandade de São Benedito”, ou mais tarde como “Igreja dos Jesuítas”, assim
como a Bom Jesus dos Perdões, construída bem mais tarde, não ficou conhecida
como “Igreja dos Franciscanos Menores”, porém a Capella de Nossa Senhora do
Terço ficou conhecida como “Igreja da Ordem Terceira”, mesmo depois que a mesma
ordem tenha deixado de existir na cidade.
Isso não acontece
apenas em Curitiba: no país todo temos até hoje diversas igrejas que continuam
sendo chamadas pelo nome das Ordens Terceiras que delas fizeram uso, ou ainda
fazem. E isso é um bom exemplo da importância que as ordens terceiras tinham no
passado.
Em Curitiba tínhamos
apenas a Ordem Terceira de São Francisco, porém nas outras grandes cidades do
país encontrávamos as ordens terceiras do Carmo, de São Bento, dos Jesuítas,
dos Capuchinhos, dos Dominicanos, e claro, dos Franciscanos. Todas essas ordens
foram muito importantes no período colonial do país, se estendendo até o
Império. Por isso até hoje dizemos que a igrejinha da praça Coronel Enéas é a
igreja “Da Ordem”, e a própria praça é o largo “Da Ordem”, e a rua ao lado
quando foi aberta era chamada de rua “Da Ordem”. Notamos que essa Ordem era
realmente importante, e muitos curitibanos importantes faziam parte dela.
Afinal, o que é uma
Ordem Terceira? Já há muito tempo a Ordem de São Francisco deixou a sua Igreja
em Curitiba, e hoje não temos muito contato com o que se trata uma Ordem
Terceira. Todos os curitibanos e turistas conhecem a Igreja da Ordem e o Largo
da Ordem, mas não sabem que Ordem é essa.
Uma Ordem Terceira é
um tipo de Confraria, ou Associação de Fiéis leigos em torno de uma Ordem
religiosa, como os já citados Carmelitas, Franciscanos, Beneditinos, Dominicanos,
etc. Seus membros são leigos, e não frades, freiras, monges e padres, apesar de
sempre terem como diretor algum religioso, mas o líder daquela Ordem era sempre
um leigo, como era o caso de Simão Gonçalves de Andrade, que havia ingressado
na Ordem Terceira franciscana em Itu, veio morar na Villa de Curitiba, e ali
ajudou a trazer a mesma Ordem, sendo o seu primeiro diretor em terras
curitibanas.
Podemos fazer um
paralelo comparando com as Confrarias, muito comuns nas primeiras décadas do
século passado, como o Apostolado da Oração, a Legião de Maria, a Federação
Mariana, etc; ou nos dias atuais, os diversos grupos de jovens e comunidades de
vida. Apesar dos objetivos dessas confrarias e desses grupos modernos serem
diferentes dos objetivos das Ordens terceiras, o que temos em comum é: são
grupos de leigos que se reúnem em torno de um mesmo propósito religioso.
A suntuosa igreja da Ordem Terceira
de São Francisco no Rio de Janeiro, concluída em 1733, apesar da Ordem estar na
cidade desde 1619.
Igreja da Ordem Terceira do
Carmo, em Salvador, de 1860
Igreja da Ordem Terceira de São
Francisco, em Recife
Apesar da sociedade
atual ser extremamente secularizada, nos primeiros séculos de Curitiba a
sociedade era profundamente católica, e até mesmo o poder público e o religioso
se misturavam. Vemos nos documentos antigos da Câmara Municipal as leis a
respeito das festas religiosas, do pagamento de padres, etc. Era comum,
portanto, que até mesmo homens de alta patente fizessem parte de Ordens
Terceiras, e em Curitiba havia apenas a de São Francisco. Por esse motivo,
nossa querida igrejinha deve ter sido muito célebre nas suas primeiras décadas
de vida. Mas Curitiba ainda era apenas uma pequena vila, passando a ser
considerada uma Cidade apenas com a emancipação do estado do Paraná em 19 de
Dezembro de 1953, sendo também considerada a sua capital. E pelos mapas
anteriormente mostrados, podemos ver que realmente o espaço urbano de Curitiba
permaneceu bastante reduzido até mesmo depois da emancipação, como vimos no
mapa de 1857. Num mapa de 1913, 50 anos depois, vemos o território de Curitiba
já bastante próximo do que é hoje, mas o núcleo urbano ainda bem limitado.
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Mapa de 1913, mostrando o
território da capital do Paraná. Note o núcleo urbano em verde escuro, ainda
bem reduzido. As demais terras eram colônias de imigrantes
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