sábado, 23 de novembro de 2019

O Hospício que virou rua


Quanto ao hospício que a Ordem Terceira deveria construir existem raríssimos registros, para não dizer praticamente nenhum. Além da citação a esse hospício na “Breve Notícia”, temos um artefato encontrado na atual Rua Mateus Leme, que inicia-se ao lado da Igreja, cuja descrição remete a esse hospício, como podemos observar nos dados do acervo da Secretaria da Cultura, disponível na Internet:



Então sabemos que o hospício existiu de fato, e que ele estava localizado onde hoje é a rua Mateus Leme, porém não sabemos até quando ele existiu, ou quando foi aberta a rua Mateus Leme ao lado da igreja.
Nos mapas antigos de Curitiba a Rua Mateus Leme já existe, apesar de ainda com outros nomes, como “Rua da Ordem” neste mapa desenhado após 1863. Sabemos que esta rua foi o início da antiga Estrada do Assungui, que ligava Curitiba com a colônia de Assungui, localizada onde hoje é o município de Cerro Azul.

Trecho do mapa feito após 1863, destacando a Igreja da Ordem e a Travessa  da Ordem, que mais adiante se torna Rua Assungui.
Estrada do Assungui, que iniciava-se no Largo da Ordem e terminava em Cerro Azul.

Sabemos que a Colônia de Assungui foi fundada em 1860, e que por muito tempo se tentou construir uma estrada entre a colônia e Curitiba para que os colonos pudessem aqui comercializar seus produtos. 

Um trecho da pesquisa sobre essa estrada, encontrado no blog Estrada do Assungui, cita o trecho inicial dela:

“O primeiro nome de rua veio de seu antigo nome, Rua do Assungui, sendo oficializado através da Lei 353 de 1912. No mesmo ano, através da Lei 311, o trecho que vai do Largo da Ordem até a ponte de um dos afluentes do rio Belém, na rua Inácio Lustosa, passou a se chamar Rua Conselheiro Carrão e seu prolongamento de Simão Bolívar. Este trecho também era conhecido como Travessa da Ordem ou Beco da Capela da Ordem.”

Portanto, o nome da rua foi oficializado em 1912, mas esse nome já existia anteriormente. Se o mapa de 1867 já mostra a rua do Assungui e a travessa da Ordem, sabemos que já nessa época o hospício da Ordem Terceira já não existia.
 
Mapa de 1857




Neste outro mapa, disponível no site da Secretaria da Cultura, apesar de estar em baixa resolução podemos locaçizar a Igreja da Ordem, e ao seu lado a rua Mateus Leme. Então o hosício já não existia na segunda metade do século XIX.


Outro mapa antigo, sem data especificada



O mapa acima é um detalhe de um mapa maior, disponível no site de pesquisa da Biblioteca Nacional: o “Mappa Geral das terras públicas e posses legitimadas no município de Curitiba e província do Paraná”. Ali vemos também a igreja da Ordem e a Travessa da Capella. A Travessa foi aberta em 1810, portanto o hospício teve menos de 100 anos de existência.
Apesar de não encontrarmos o Hospício da Ordem retratado em nenhum mapa antigo, em outros mapas podemos notar algo interessante: o Largo da Ordem sendo chamado de Páteo da Ordem, ou Páteo da Capella.
Além do Hospício, Lustosa cita que a igreja contava com uma casa paroquial e um grande quintal, sendo esse quintal também transformado na rua Mateus Leme, e a casa paroquial ficava ao lado da igreja, sendo vendida mais tarde para Mendes Leitão.
Com essas informações podemos imaginar como seria o complexo da Igreja da Ordem nas primeiras décadas em que esteve com a Ordem Terceira, tendo ainda o seu hospício e a casa paroquial.


Disposição imaginária de como deveria ser o conjunto de prédios da Ordem Terceira, com a capela à esquerda, o Hospício no centro e a casa à direita, contando com um jardim entre eles, como uma espécie de claustro.
Concepção artística da mesma disposição, agora em 3 dimensões, com o hospício e a casa modeladas conforme a arquitetura colonial.
Sobreposição de imagens para simular como deveria ser o Largo da Ordem até meados de 1750.



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