domingo, 24 de novembro de 2019

A Capela do Terço passa a ser Igreja da Ordem


Portanto, em 5 de Fevereiro de 1740 estava benta a Capela do Terço, construída um ano antes pelo mestre Luiz Palhano, sob a ordem de Manoel Rodrigues da Motta. Os Boletins do Arquivo Municipal trazem um breve histórico de Coronel Motta:

“Tenente Coronel Manoel Rodrigues da Motta: foi tabelião em Curitiba e exerceu os altos cargos da Governança; Natural de São Gonçalves de Amaranies, em Portugal. Em 1728 recebeu o encargo de abrir a estrada da Mata até Laguna e com a bandeira de que foi Capitão e Comandante, e com as despesas de sua fazenda prestou tão relevantes serviços que o Conde de Sarzedas Governador e Capitão geral da Capitania o agradeceu e o fez Sargento-Mor e Superintendente do Registro de Gado em Curitiba. Foi protetor da Capella de N. S. do Terço de Curityba. No final de sua vida residia em Itaqui de Campo Largo, com sua mulher Helena Rodrigues Coutinho, Filha de Manoel Gonçalves de Siqueira e sua mulher Paula Rodrigues de França.”

Também encontramos Coronel Motta como sendo um bandeirante curitibano incumbido de importantes missões no interior do Paraná, inclusive de ter sido o responsável por ligar Curitiba ao caminho de Viamão, algo de extrema importância para a sobrevivência de Curitiba em seus primeiros anos, como nos relata este trecho do livro “Espirais do Tempo”, da Secretaria da Cultura do Estado do Paraná:

“Em 1728, Zacarias Dias Côrtes organizou expedição ao então chamado “Campo de Palmas”, e as descobertas que fez levaram o governador da capitania de São Paulo a determinar a abertura de um caminho na direção do continente de São Pedro do Rio Grande, para tanto incumbindo o sargento-mor Francisco de Souza de Faria e Manoel Rodrigues da Motta, partindo o primeiro da povoação de Santo Antônio dos Anjos da Laguna em Santa Catarina e, o segundo, de São Paulo. Deveriam encontrar-se em ponto dos Campos Gerais. Todavia as expedições desencontraram-se, o que motivou a organização de nova empreitada, cabendo a Manoel Rodrigues da Motta, bandeirante curitibano – que a seu próprio custo a levou a cabo – , a primazia de haver aberto o caminho, que serviu para o povoamento dos Campos Gerais de Curitiba e estabeleceu a ligação entre Viamão e Sorocaba.”

Sabemos, portanto, que Coronel Motta era alguém muito importante da sociedade da Vila de Nossa Senhora da Luz naquela época.

Ele e sua esposa administraram a Capela do Terço até a sua morte, deixando a dita capela como herança para sua filha Maria Rodrigues Pinta, que a administrou ao lado do marido, Antonio José de Oliveira Rosa. Junto da capela também haviam como posses da mesma uma fazenda na região de Campo Largo, chamada “Jaguacem”.

Foi durante a administração dos dois que, em 1751 – quando a igreja já tinha 14 anos – o Frei José de Santa Úrsula passa a ser o comissário da Ordem Terceira e, no ano seguinte, Frei Antonio do Extremo (o mesmo que convenceu Coronel Motta a construir a Capela do Terço) estava de volta a Curitiba.
Ali conheceu o Simão Gonçalves de Andrade, que fundou a Ordem Terceira em Curitiba ao lado de Frei Manuel, 6 anos antes, e pôde verificar que ainda estavam sem uma igreja. Frei Antonio, que devia ser muito convincente, conseguiu que Maria Rodrigues e Antonio José doassem a Capela do Terço que ele mesmo havia feito construir, para a Ordem Terceira de São Francisco das Chagas.
Transcrevo abaixo o texto da escritura, conforme as fontes nos apresentam:

“Saibam quantos este público instrumento de doação virem, que sendo no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de Mil Setecentos e Cinquenta e Dois, aos oito dias de Abril do dito ano nesta vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba,  em casa e moradas de Pedro de Siqueira Cortez, aonde estavam Antonio José de Oliveira Rosa e bem assim sua mulher Maria Rodrigues Pinta, e todos disseram que estava a seu contento, que assinou o dito doador com o dito procurador Simão Gonçalves de Andrade e pela outorgante doadora Maria Rodrigues Pinta ser mulher e não saber ler neme screver, pediu e rogou ao juiz ordinário pedro Antonio Moreira por ela assinasse, o qual a seu rogo assinou, sendo a tudo presentes por testemunhas o sargento Felix Ferreira Neto e Miguel Gonçalves Lima, todos moradores desta mesma vila de Curitiba, e todos pessoas conhecidas de mim, tabelião João de Bastos Coimbra, escrivão que a escrevi.”

Nada consta nesta escritura a fazenda em Campo Largo, mas podemos imaginar que tenha sido incluída com a Capela para a Ordem Terceira. 

Representação imaginária do atual Largo da Ordem nos primeiros anos da Capela do Terço


Os terciários de São Francisco teriam então o compromisso de construir um hospício junto à igreja, dar sepultura aos benfeitores da capela, e preservar a devoção de Nossa Senhora do Terço.

Assim a capela continuou com seu nome original até 1831, quando registrou-se a mudança para o nome atual.


Nenhum comentário:

Postar um comentário