Portanto, em 5 de
Fevereiro de 1740 estava benta a Capela do Terço, construída um ano antes pelo
mestre Luiz Palhano, sob a ordem de Manoel Rodrigues da Motta. Os Boletins do
Arquivo Municipal trazem um breve histórico de Coronel Motta:
“Tenente Coronel Manoel Rodrigues da Motta: foi tabelião em Curitiba e
exerceu os altos cargos da Governança; Natural de São Gonçalves de Amaranies,
em Portugal. Em 1728 recebeu o encargo de abrir a estrada da Mata até Laguna e
com a bandeira de que foi Capitão e Comandante, e com as despesas de sua
fazenda prestou tão relevantes serviços que o Conde de Sarzedas Governador e
Capitão geral da Capitania o agradeceu e o fez Sargento-Mor e Superintendente
do Registro de Gado em Curitiba. Foi protetor da Capella de N. S. do Terço de
Curityba. No final de sua vida residia em Itaqui de Campo Largo, com sua mulher
Helena Rodrigues Coutinho, Filha de Manoel Gonçalves de Siqueira e sua mulher
Paula Rodrigues de França.”
Também encontramos
Coronel Motta como sendo um bandeirante curitibano incumbido de importantes
missões no interior do Paraná, inclusive de ter sido o responsável por ligar
Curitiba ao caminho de Viamão, algo de extrema importância para a sobrevivência
de Curitiba em seus primeiros anos, como nos relata este trecho do livro “Espirais
do Tempo”, da Secretaria da Cultura do Estado do Paraná:
“Em 1728, Zacarias Dias Côrtes organizou expedição ao então chamado
“Campo de Palmas”, e as descobertas que fez levaram o governador da capitania
de São Paulo a determinar a abertura de um caminho na direção do continente de
São Pedro do Rio Grande, para tanto incumbindo o sargento-mor Francisco de
Souza de Faria e Manoel Rodrigues da
Motta, partindo o primeiro da povoação de Santo Antônio dos Anjos da Laguna
em Santa Catarina e, o segundo, de São Paulo. Deveriam encontrar-se em ponto
dos Campos Gerais. Todavia as expedições desencontraram-se, o que motivou a
organização de nova empreitada, cabendo a Manoel Rodrigues da Motta,
bandeirante curitibano – que a seu próprio custo a levou a cabo – , a primazia
de haver aberto o caminho, que serviu para o povoamento dos Campos Gerais de
Curitiba e estabeleceu a ligação entre Viamão e Sorocaba.”
Sabemos, portanto, que
Coronel Motta era alguém muito importante da sociedade da Vila de Nossa Senhora
da Luz naquela época.
Ele e sua esposa
administraram a Capela do Terço até a sua morte, deixando a dita capela como
herança para sua filha Maria Rodrigues Pinta, que a administrou ao lado do
marido, Antonio José de Oliveira Rosa. Junto da capela também haviam como
posses da mesma uma fazenda na região de Campo Largo, chamada “Jaguacem”.
Foi durante a
administração dos dois que, em 1751 – quando a igreja já tinha 14 anos – o Frei
José de Santa Úrsula passa a ser o comissário da Ordem Terceira e, no ano
seguinte, Frei Antonio do Extremo (o mesmo que convenceu Coronel Motta a
construir a Capela do Terço) estava de volta a Curitiba.
Ali conheceu o Simão
Gonçalves de Andrade, que fundou a Ordem Terceira em Curitiba ao lado de Frei
Manuel, 6 anos antes, e pôde verificar que ainda estavam sem uma igreja. Frei
Antonio, que devia ser muito convincente, conseguiu que Maria Rodrigues e
Antonio José doassem a Capela do Terço que ele mesmo havia feito construir,
para a Ordem Terceira de São Francisco das Chagas.
Transcrevo abaixo o
texto da escritura, conforme as fontes nos apresentam:
“Saibam quantos este público instrumento de doação virem, que sendo no
ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de Mil Setecentos e Cinquenta e
Dois, aos oito dias de Abril do dito ano nesta vila de Nossa Senhora da Luz dos
Pinhais de Curitiba, em casa e moradas
de Pedro de Siqueira Cortez, aonde estavam Antonio José de Oliveira Rosa e bem
assim sua mulher Maria Rodrigues Pinta, e todos disseram que estava a seu
contento, que assinou o dito doador com o dito procurador Simão Gonçalves de
Andrade e pela outorgante doadora Maria Rodrigues Pinta ser mulher e não saber
ler neme screver, pediu e rogou ao juiz ordinário pedro Antonio Moreira por ela
assinasse, o qual a seu rogo assinou, sendo a tudo presentes por testemunhas o
sargento Felix Ferreira Neto e Miguel Gonçalves Lima, todos moradores desta
mesma vila de Curitiba, e todos pessoas conhecidas de mim, tabelião João de
Bastos Coimbra, escrivão que a escrevi.”
Nada consta nesta
escritura a fazenda em Campo Largo, mas podemos imaginar que tenha sido
incluída com a Capela para a Ordem Terceira.
Representação imaginária do atual
Largo da Ordem nos primeiros anos da Capela do Terço
|
Os terciários de São Francisco teriam então o compromisso de construir
um hospício junto à igreja, dar sepultura aos benfeitores da capela, e
preservar a devoção de Nossa Senhora do Terço.
Assim a capela continuou com seu nome original até 1831, quando
registrou-se a mudança para o nome atual.
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