Eis que chega o grande
dia 18 de Maio de 1880, e Dom Pedro II desembarca no Porto de Paranaguá,
chegando a Curitiba dias depois. Haveria uma grande agenda a cumprir, não só na
capital, mas também em localidades do interior da Província. O jornal O Dezenove de Dezembro publica
antecipadamente a programação da visita, celebrando na edição seguinte que tudo
foi realizado com sucesso. Diversas visitas na cidade, queima de fogos,
bailes... Curitiba parou para receber seu monarca.
Capa do O Dezenove de Dezembro,
na edição 2048 de 1880
A edição de 24 de Maio descreve
como foi a chegada do Imperador e da Imperatriz a Curitiba:
Às duas e meia horas da tarde, ao subir ao ar
uma gyrandola colocada no “Alto da Glória”, ultima das
que se achavam dispostas, de distancia em distancia, na extensão de uma légua,
para anunciarem a aproximação dos Augustos Viajantes e de sua ilustre comitiva,
a população da capital, quase em sua totalidade, dirigiu-se pressurosa para
junto do coreto da rua do Serrito (antiga Rua do Saldanha, atual rua Carlos
Cavalcanti), onde deviam ser recebidos
Suas Magestades, pelas comissões para esse fim nomeadas.
Neste lugar achavam-se convenientemente estacionadas a guarda de honra respectiva e a população das 21 colônias
estabelecidas nas circunvisinhanças desta capital, sendo cada uma representada por
um sinal conduzido por uma jovem colona de suas nacionalidades pelas bandeiras
respectivas.
Quinze minutos após o anúncio dado pela
gyrandola, chegaram acompanhados de um piquete de cavalaria, de um esquadrão
patriótico de alemães e de grande numero de cavaleiros, os Augustos Viajantes
ao lugar acima mencionado, e aí, entre flores que
juncavam o solo e fervorosas saudações que enchiam o espaço, Suas Majestades se dignaram descer do seu carro, recebendo Sua Majestade, o
Imperador, a chave da cidade, das mãos do presidente da câmara municipal, que
com todas as autoridades e corporações superiores, ali se achavam aguardando a
chegada dos Augustos Soberanos.
As ruas acima mencionadas achavam-se primorosamente decoradas, e é
difícil, se não impossível, descrever o entusiasmo da população desta cidade,
que á tocava ao delírio, ao fazerem Suas Magestades Imperiais este trajeto.
(...)
Não é para os limites de uma notícia a
descrição de tudo quanto se exibiu de grandioso nesta ocasião.
Pode-se dizer que a rainha do Paraná, este oásis dos campos do sul, o reino da
araucária, de cujo nome se exalta, arreiou-se de todos os esplendores
possíveis, para receber com honra os nossos soberanos.
Magníficos transparentes, que difícil seria
enumerar, se achavam colocados á frente de diversas casas e edifícios públicos,
em honra dos nossos Augustos Soberanos.
No centro do largo do Paço, todo ajardinado,
sobresaía com surpreendente beleza o Pavilão que ali fora primorosamente
levantado.”
O texto ainda continua
descrevendo os detalhes da recepção do Imperador no Paço municipal. É nítida a
grandiosidade desta visita e a comoção da população curitibana.
Essa é outra coisa que
foge da nossa compreensão atualmente: a ideia de ser governado por um
imperador.
O império era muito
diferente do sistema republicano que aplica-se no Brasil hoje, em que a cada 4
anos se elege um novo presidente, isso quando o processo não é interrompido por
um golpe ou alguém é demitido por corrupção. A política da República é
completamente desmoralizada diante da população, e são raríssimas as pessoas
honestas entre os políticos republicanos.
No Império não era
assim. Apesar de sempre haverem problemas, o povo amava seu imperador. Dom
Pedro II reinou desde 1840, e antes dele seu pai. O povo brasileiro crescia sob
o governo de uma mesma família, e na época da visita de Dom Pedro a Curitiba,
grande parte das pessoas nasceu e cresceu sendo ele o único governante. E as
recepções calorosas em todo lugar que ele e sua família iam não eram mero
protocolo, mas sim manifestações sinceras que o povo nutria. E os relatos dos
jornais dessa época deixam isso bem claro.
Quanto não deve ter se
alegrado Antoio Lustosa ao receber seu imperador magnânimo naqueles dias de
Maio de 1880. Sendo ele um importante político, estava entre os nomes da
comitiva que o recepcionou, ao lado de outros grandes nomes da nossa história,
como o Barão do Cerro Azul, Agostinho Ermelino de Leão, e o coronel Enéas, que
já citamos.
Nomes dos membros da comissão de
recepção do imperador, com Antonio Lustosa entre eles. O Dezenove de Dezembro,
edição 2047 de 1880
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