sábado, 16 de novembro de 2019

A visita Imperial





Eis que chega o grande dia 18 de Maio de 1880, e Dom Pedro II desembarca no Porto de Paranaguá, chegando a Curitiba dias depois. Haveria uma grande agenda a cumprir, não só na capital, mas também em localidades do interior da Província. O jornal O Dezenove de Dezembro publica antecipadamente a programação da visita, celebrando na edição seguinte que tudo foi realizado com sucesso. Diversas visitas na cidade, queima de fogos, bailes... Curitiba parou para receber seu monarca.



Capa do O Dezenove de Dezembro, na edição 2048 de 1880

A edição de 24 de Maio descreve como foi a chegada do Imperador e da Imperatriz a Curitiba:



“Desde o romper da alvorada, foi a cidade despertada pelo troar da artilharia, pelo estrugir dos foguetes e pelo repicar dos sinos, que anunciavam a próxima chegada de Suas Majestades Imperiais.
 
Às duas e meia horas da tarde, ao subir ao ar uma gyrandola colocada no “Alto da Glória”, ultima das que se achavam dispostas, de distancia em distancia, na extensão de uma légua, para anunciarem a aproximação dos Augustos Viajantes e de sua ilustre comitiva, a população da capital, quase em sua totalidade, dirigiu-se pressurosa para junto do coreto da rua do Serrito (antiga Rua do Saldanha, atual rua Carlos Cavalcanti), onde deviam ser recebidos Suas Magestades, pelas comissões para esse fim nomeadas.
  
Neste lugar achavam-se convenientemente estacionadas a guarda de honra respectiva e a população das 21 colônias estabelecidas nas circunvisinhanças desta capital, sendo cada uma representada por um sinal conduzido por uma jovem colona de suas nacionalidades pelas bandeiras respectivas.

Quinze minutos após o anúncio dado pela gyrandola, chegaram acompanhados de um piquete de cavalaria, de um esquadrão patriótico de alemães e de grande numero de cavaleiros, os Augustos Viajantes ao lugar acima mencionado, e aí, entre flores que juncavam o solo e fervorosas saudações que enchiam o espaço, Suas Majestades se dignaram descer do seu carro, recebendo Sua Majestade, o Imperador, a chave da cidade, das mãos do presidente da câmara municipal, que com todas as autoridades e corporações superiores, ali se achavam aguardando a chegada dos Augustos Soberanos.

Em seguida, Suas Majestades, debaixo das mais entusiásticas demonstrações de regozijo da população que ali se achava, tomaram lugar, de novo, no seu carro, e dirigiram-se para o Paço pelas ruas Direita (atual 13 de Maio), Riachuello, Flores (atual 15 de Novembro), Travessa das Flores, o Largo da Matriz até o Paço (que na época ficava na Praça Tiradentes), não tendo podido ser feito esse trajeto a pé, em consequência da umidade que havia, produzida pelas chuvas dos dias anteriores.

As ruas acima mencionadas achavam-se primorosamente decoradas, e é difícil, se não impossível, descrever o entusiasmo da população desta cidade, que á tocava ao delírio, ao fazerem Suas Magestades Imperiais este trajeto.

(...)

Não é para os limites de uma notícia a descrição de tudo quanto se exibiu de grandioso nesta ocasião. 

Pode-se dizer que a rainha do Paraná,  este oásis dos campos do sul, o reino da araucária, de cujo nome se exalta, arreiou-se de todos os esplendores possíveis, para receber com honra os nossos soberanos.

Em todas as ruas e em todas as casas, raras sendo as não embandeiradas, sem distinção de nacionalidade, via-se uma rica e deslumbrante iluminação, indescritível, fantástica. Arcos triunfais e alas dos pinheiros, simetricamente plantados, viam-se em todas as ruas e largos.
Magníficos transparentes, que difícil seria enumerar, se achavam colocados á frente de diversas casas e edifícios públicos, em honra dos nossos Augustos Soberanos.

No centro do largo do Paço, todo ajardinado, sobresaía com surpreendente beleza o Pavilão que ali fora primorosamente levantado.”



O texto ainda continua descrevendo os detalhes da recepção do Imperador no Paço municipal. É nítida a grandiosidade desta visita e a comoção da população curitibana.

Essa é outra coisa que foge da nossa compreensão atualmente: a ideia de ser governado por um imperador.

O império era muito diferente do sistema republicano que aplica-se no Brasil hoje, em que a cada 4 anos se elege um novo presidente, isso quando o processo não é interrompido por um golpe ou alguém é demitido por corrupção. A política da República é completamente desmoralizada diante da população, e são raríssimas as pessoas honestas entre os políticos republicanos.

No Império não era assim. Apesar de sempre haverem problemas, o povo amava seu imperador. Dom Pedro II reinou desde 1840, e antes dele seu pai. O povo brasileiro crescia sob o governo de uma mesma família, e na época da visita de Dom Pedro a Curitiba, grande parte das pessoas nasceu e cresceu sendo ele o único governante. E as recepções calorosas em todo lugar que ele e sua família iam não eram mero protocolo, mas sim manifestações sinceras que o povo nutria. E os relatos dos jornais dessa época deixam isso bem claro. 

Quanto não deve ter se alegrado Antoio Lustosa ao receber seu imperador magnânimo naqueles dias de Maio de 1880. Sendo ele um importante político, estava entre os nomes da comitiva que o recepcionou, ao lado de outros grandes nomes da nossa história, como o Barão do Cerro Azul, Agostinho Ermelino de Leão, e o coronel Enéas, que já citamos.



Nomes dos membros da comissão de recepção do imperador, com Antonio Lustosa entre eles. O Dezenove de Dezembro, edição 2047 de 1880



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