segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Os lamentos da antiga Matriz


Entra aqui mais um nome para nunca ser esquecido na história da Igreja da Ordem: Antonio Ricardo Lustosa de Andrade. Seu pai, Ricardo Lustosa, havia reparado o teto que desabou em 1835. 

Antonio nasceu em Curitiba no ano de 1823, filho de Ricardo Lustosa de Andrade e Francisca das Chagas Carrão. Foi um dos grandes nomes de sua época, chegando aos cargos de secretário do governo da Província, tesoureiro da Tesouraria Geral da Fazenda, foi deputado provincial diversas vezes, colaborou nos jornais “O Dezenove de Dezembro” e “Província do Paraná”, além de ser grande conhecedor de assuntos de agricultura, catequese e povos indígenas, chegando até mesmo a escrever uma importante obra sobre a incorporação dos indígenas à sociedade. 

Este grande curitibano herdou de seu pai a responsabilidade pela Igreja da Ordem Terceira, e tinha grande preocupação com o patrimônio histórico, muito antes de serem criados órgãos do governo para este fim. Grande foi sua trizteza ao acompanhar a maneira descuidada com que se demoliram a antiga Matriz, chegando a relatar no seu livro – a Breve Notícia sobre a Igreja da Ordem III de São Francisco das Chagas – que muitos dos materiais da igreja demolida ainda estavam em bom estado e poderiam ser reaproveitados. Ele mesmo utilizou uma das vigas nas reformas que faria na Igreja da Ordem.

Os artigos abaixo, publicados no jornal “Província do Paraná”, sobre a demolição da Matriz provavelmente devem ter sido escritos por ele (apesar de ter assinado como “um do povo”). Ao contrário do “O Dezenove de Dezembro”, que louvava as decisões de Lamenha Lins, esse outro jornal lamentava profundamente a demolição da Matriz. Veja abaixo apenas alguns trechos das edições 03 e 04 de 1876.

 Província do Paraná, edição 03 de 1876



Província do Paraná, edição 04 de 1876

As edições seguintes desse mesmo jornal estamparam um extenso debate entre o autor desses artigos e a comissão da demolição da antiga Matriz, sempre lamentando e afirmando que a ruína total não era necessária.

Sendo Antonio Lustosa ou não, o fato é que ele expressou descontentamento em sua Breve Notícia, e para nós isso basta sabermos. Agora voltemos a nossa história.

Ainda antes de Antonio Lustosa assumir a responsabilidade pela Igreja da Ordem, ela havia sido reparada do Coronel Benedito Eneas de Paula (que mais tarde seria homenageado com seu nome batizando o próprio Largo da Ordem) e o padre Izaías Ribeiro de Andrade na década de 1860, e a captação de recursos da Província para isso foi noticiada no jornal. Mas as obras estavam longe de acabar, principalmente com o início das obras na Matriz em 1876.

Para termos uma ideia da situação da Igreja da Ordem nessa segunda metade do século XIX, os imigrantes poloneses, ao chegarem a Curitiba, receberam como capela a Igreja da Ordem, que já não abrigava mais a Ordem Terceira. Em 1865 o padre Ludovico Przgtanky, capelão dos poloneses, chega na Igreja e fica horrorizado com sua situação, fechando-a e nunca mais voltando. Isso nos ajuda a entender o empenho em recuperá-la nos anos que seguiram.

Estamos agora no final da década de 1870, com a Matriz demolida e suas atividades transferidas para a Igreja do Rosário, apressadamente adequada para este fim, enquanto a Igreja da Ordem passava por reparos frequentes. É aqui que Antonio Lustosa entra de fato para a nossa história.
 


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