Após a Emancipação do
Paraná em 19 de Dezembro de 1853 até a crise de 1929, a economia do Paraná
girava em torno da Erva Mate. O plantio, extração e processamento desta planta
utilizada para preparo de bebidas movimentou a Província e estimulou a
navegação comercial nos rios Iguaçú e Paraná, a abertura da estrada da Graciosa
e mais tarde a própria Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá, para escoar a
gigantesca produção de erva, que chegou a ser responsável por 85% da economia
do Paraná. Nessa época surgiram os grandes empresários da Erva Mate, e Curitiba
aumentou em tamanho, população, riqueza e importância, deixando de ser ma
simples vila para ser uma moderna cidade da sua época. Personalidades como Manoel
Antônio Guimarães (Visconde de Nacar); Ildefonso Pereira Correia (Barão do
Cerro Azul); Família Fontana; Agostinho Ermelino de Leão Junior, fizeram
fortuna nesta época e financiaram grandes obras em Curitiba. Foi uma época de
ouro para Curitiba, quando se ergueram os grandes casarões que até hoje existem
no centro da cidade, se construíram várias igrejas, a Universidade, praças e
melhorias, e como veremos adiante, a própria Catedral, e benfeitorias na Igreja
da Ordem.
Mas não nos adiantemos
muito na história. Basta sabermos que a partir de agora os fatos se passam em
uma Curitiba já importante e conceituada.
Fotografia de Curitiba em 1900,
já com a nova Matriz e vários casarões.
O fim da antiga Matriz
Até aqui contamos a
história da Igreja da Ordem de sua fundação até meados de 1850. Esse primeiro
século da Igreja eu gosto de chamar de Período
Colonial, devido à sua arquitetura que até agora permaneceu a mesma de
1737, teoricamente. Os fatos narrados a partir de agora farão com que ela mude
radicalmente, e explicaremos detalhadamente os motivos.
Para começar, tratemos
agora da antiga Matriz de Curitiba, a primeira e principal igreja da capital da
província, pois ela foi responsável pela próxima etapa da história da Igreja da
Ordem.
A primitiva igreja
Matriz da recém fundada villa de Nossa Senhora da Luz foi construída por volta
do ano 1668, bastante rudimentar, sendo substituída por uma nova igreja entre 1714
e 1720 na região da atual praça Tiradentes, que serviu por muito tempo tanto
para fins religiosos como para fins políticos, sendo ali que a Câmara se
reunia. Esta era em estilo colonial, como as demais construções da época. Porém
a sua localização não foi muito acertiva, pois estava sobre lençóis freáticos
dos rios que desciam do Alto São Francisco até a bacia do Rio Belém, o que
causou com o passar dos anos inúmeros danos à estrutura da igreja.
A Matriz, portanto,
foi concluída em 1720, faltando ainda 17 anos para que a Igreja da Ordem fosse
construída.
Em 1857 (a Matriz já
tinha mais de 100 anos) foram erguidas a duas torres que aparecem nas poucas
fotos que nos restaram dela.
Igreja Matriz em 1865
Ilustração de J.H. Elliot
retratando Curitiba em 1855, onde vemos ao centro a Igreja Matriz, e mais acima
e à direita vemos outra igreja, possivelmente a Igreja da Ordem. A do Rosário
estaria ainda mais à direita. Porém, uma gravura não tem precisão de uma
fotografia, então é difícil afirmar.
Aquarela do mesmo autor e do
mesmo ano, retratando a Vila de Curitiba do ângulo oposto, Vemos ao centro a
Matriz, e no canto superior esquerdo algo que parece ser uma igreja. Mas não
podemos precisar qual seja.
Célebre desenho de 1827, por J.B.
Debret, onde vemos um homem trabalhando possivelmente na colina do São
Francisco, onde hoje estão as ruínas. Ao centro vemos a Matriz ainda sem
torres, e no lado esquerdo uma igrejinha. Seria a Igreja do Rosário ou a Igreja
da Ordem? Sabemos por fotos que a Igreja do Rosário possuía três janelas e o
telhado quadrado, assim como a Igreja da Ordem, segundo a concepção apresentada
no início dessa pesquisa. Infelizmente jamais saberemos.
Foto de 1870, em que a Igreja
Matriz já está com suas torres. Notamos um pouco mais à esquerda uma capelinha,
provavelmente a Igreja do Rosário, que está em um plano mais alto que a da
Ordem.
Também podemos crer que seja a capela de São Francisco de Paula,
construída em 1809, porém creio que ela ficasse ainda mais à esquerda.
Porém as torres abalaram ainda mais a estrutura da antiga Matriz, e a
situação precária da igreja escandalizava os cidadãos. Como se havia o costume
de enterrar os mortos na própria igreja – o próprio Mateus Leme, um dos
fundadores de Curitiba, estava enterrado ali – frequentemente o mau odor dos
cadáveres incomodava os fiéis, além da chuva que passava entre o telhado, e as
vezes em que precisavam tirar as vacas de dentro da igreja para poderem
celebrar a missa ou realizar as reuniões da Câmara. Vemos nos jornais diversas
discussões sobre o estado da Matriz, e muito se falava de se demolir para
construir uma nova. O próprio Antonio Rebouças, arquiteto responsável pela
ferrovia Curitiba-Paranaguá, dizia que Curitiba merecia uma Matriz digna de uma
capital. Diversas obras foram sendo realizadas na tentativa de manter a igreja,
inclusive utilizando-se o material da igreja de São Francisco de Paulo que
estava sendo concluída, mas nunca chegou a ser, e cujas ruínas permanecem até
hoje.
Após incidentes durante a novena da padroeira, decidiu-se demolir a
antiga matriz, o que foi feito em 1875, sob ordem do então presidente
provincial Adolpho Lamenha Lins e com autorização do Bispo de São Paulo.
Os jornais da época noticiaram esse dramático e doloroso processo, como
podemos acompanhar a seguir (clique nas imagens para ampliar):
O Dezenove de Dezembro, edição
1584 de 1875
O Dezenove de Dezembro, edição
1663 de 1875
O Dezenove de Dezembro, edição 1664 de 1875
O Dezenove de Dezembro, edição
1664 de 1875
O Dezenove de Dezembro, edição
1666 de 1875
O Dezenove de Dezembro, edição
1667 de 1875
O Dezenove de Dezembro, edição
1669 de 1875
Assim, a última edição
de 1875 do jornal Dezenove de Dezembro noticiava a demolição da antiga igreja
Matriz, decisão dolorosa, porém inevitável, como pudemos observar.
Os engenheiros
responsáveis por uma inspeção em 1872 chegaram a publicar no mesmo jornal uma
nota sobre seus pareceres na edição 1675 de 1876.
Outro importante
artigo da época para entendermos melhor a situação dramática referente a Matriz
podemos ler na segunda edição do jornal Província
do Paraná, de 1876, a partir da terceira página.
Os jornais seguintes
passariam a noticiar as campanhas de arrecadação de fundos para a nova igreja
Matriz. A construção dela é uma novela a parte, pois levou dezessete anos para
ser concluída. Mas os pormenores da construção da nova igreja não nos vem ao
caso aqui. O importante é entendermos que a demolição da antiga Matriz a partir
de Janeiro de 1876 era necessária, e a sede foi transferida para a Igreja do
Rosário.
Você pode se perguntar
como a sociedade de 1875, mais de 10 anos antes da abolição da escravidão,
aceitou transferir a Matriz para a igreja construída por negros e para negros.
Certamente não era uma opção óbvia e que não deve ter agradado a muitos, mas
foi também necessária: era a única igreja de Curitiba que se encontrava em bom
estado.
Sim, a nossa querida
protagonista estava em péssima situação, e as obras na Matriz obrigaram a
Igreja do Rosário ser adequada para substituí-la, enquanto que a Igreja da
Ordem também passaria por reformas. Mas um fato fez com que isso acontecesse de
forma urgente.
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