Acontece que por volta
de 1730 um certo Frei Antonio do Extremo, franciscano que viajava entre
Sorocaba e Sacramento, na Argentina, coletando esmolas para os lugares Santos
da Terra Santa – os franciscanos mantém as igrejas católicas da Terra Santa
desde 1342. Em passagem pela Vila de Curityba, notou que havia apenas uma
precária igreja Matriz.
A igreja Matriz,
aliás, que abrigava a padroeira da vila, foi construída originalmente em 1654,
reconstruída em 1720, mas sempre esteve em estado precário por ter sido
construída sobre desconhecidos lençóis freáticos. Há uma lenda que conta a
escolha do local da construção da primeira igrejinha, mas por ser apenas uma
lenda, não a levarei em conta. O fato é que era a única igreja da pequena
povoação.
Frei Antonio
convenceu, então, o Tentente Coronel Manuel Rodrigues da Motta e sua esposa
Elena Rodrigues Coutinho a erguerem uma nova capela na vila, dedicada a Nossa
Senhora do Terço. Para isso, eles contratam o mestre construtor Luiz Palhano de
Azevedo. O próprio frade juntou recursos com a população para a construção da
capela.
Nos Boletins do
Arquivo Municipal de Curitiba (disponíveis na internet) encontramos Luiz Palhano citado num termo de
posse e juramento dos oficiais que passaram a servir no ano de 1723. Logo em
seguida um termo de serviço para construir uma ponte, onde é citado Luiz
Palhano. Uma citação mais relevante para a nossa pesquisa se dá no volume 13
dos Boletins, na página 38, escrito em 7 de Março de 1737, quando solicita-se a
Luiz Palhano de Azevedo – dito no documento como sendo “homem carpinteiro” –
para que fizesse reparos nas paredes da Cadeia da vila, pois “a cada instante
estarem os prezos arrombando”. Porém, Luiz haveria respondido que “por horas
não podia ajustar” por estar “de andar com as obras da Igreja”.
O volume 13 destes
Boletins trazem uma carta dos habitantes da vila de Curitiba ao Senado escrita
em 1763, reclamando dos altos prejuízos que estavam tendo em virtude do
estabelecimento de duas “lojas de fazendas” a duas léguas de Curitiba,
aproximadamente 8 quilômetros, pois as tropas que com frequência viajavam entre
o “Rio Grande de São Pedro do Sul” em direção a “toda esta america” – isto é, os
tropeiros que movimentavam a economia de Curitiba no início de sua história –
deixaram de visitar a cidade e faziam negócios nessas duas lojas distantes,
ficando a Vila de Curitiba despovoada. Cita como um dos prejuízos que “a Igreja
que se acabara de levantar” sofria “por muita falta de gente que vai e não
torna”. Nesta época a igreja mais recente era a Capela Nossa Senhora do Terço!
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Representação de algumas das rotas dos tropeiros, entre Viamão e Sorocaba. Curitiba estava como um dos entrepostos comerciais desta rota. |
Quase ao mesmo tempo,
a poucos metros dali, a Irmandade dos Homens Pretos de Nossa Senhora do Rosário
erguia sua capela, que foi concluída em 1736. A Capela do Terço fica pronta no
ano seguinte, 1737. Por isso é considerada a terceira igreja de Curitiba.
Neste mesmo ano,
envia-se ao bispo do Rio de Janeiro, Dom Frei Antonio de Guadalupe, pedindo a
provisão para a capela. Essa provisão é concedida apenas em 7 de Fevereiro de
1738, e o vigário de Paranaguá é autorizado a benzer a capela.
Abro aqui um breve
parênteses para falar da cidade de Paranaguá, a primeira cidade do estado.
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Foto do porto de Paranaguá, há muito tempo atrás |
Sua
ocupação pelos europeus iniciou já em meados de 1500, na ilha de Cotinga, que
serviu de base para os colonizadores que se aventuravam entre os índios no
continente. Nesta ilha encontra-se até hoje a igreja mais antiga do Paraná, a
capela de Nossa Senhora das Mercês, de 1677. Contudo, no continente já existia
uma capela a Nossa Senhora do Rosário em 1578, sendo demolida posteriormente
para a construção da atual Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário (agora
catedral), de 1863. E em 1784 construiu-se a Igreja de São Benedito, usando
materiais da Igreja de Nossa Senhora das Mercês, da ilha de Cotinga. Esta
capela das Mercês foi reconstruída nos anos 90.
Ou seja, podemos observar
que a presença religiosa em Paranaguá já existia nas primeiras décadas da
colonização brasileira. Já havia igrejas construídas na vila muito antes de se
sonhar com a existência de Curitiba. A vila de Paranaguá era a cidade mais
importante do que hoje é o Paraná. E a pequena vila de Nossa Senhora da Luz
dependia muito das provisões de lá, principalmente por que o Porto de Paranaguá
era a principal via de comunicação com o resto do país.
Contudo, Curitiba e
Paranaguá são separadas por uma cordilheira de montanhas, e em uma época em que
ainda não existia a Estrada de Ferro, nem a Estrada da Graciosa e nenhuma outra
das auto-estradas que temos hoje, ainda era muito difícil e demorada a
comunicação e a viagem entre a vilas do litoral e do planalto. Por isso,
levaram dois anos para que o padre Cristóvão da Costa Oliveira pudesse vir a
Curitiba, realizando o rito da bênção da capela de Nossa Senhora do Terço em 5
de Fevereiro de 1740, juntamente com o padre José Rodrigues França e Manoel
Domingos Leitão.
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